Meus sonhos caíram
minha vida ruiu
não sei mais o que sou
nem o que tenho
nem o que quero
nem pra onde vou
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Não sei se é possível
diante de tanta abstração
diante de tamanha negação
de imenso inconformível
de tão pouca vontade
menos ainda de nenhuma ilusão
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Seja agora, aqui
seja amanhã, ali
seja onde for
viajando num comprimido
sorrindo numa estação
estando debaixo do chão
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Um de meus sonhos era ser cremado
mas quem me dará as cinzas
que, digo logo, sejam deixadas
pras águas de um rio grande
como eram meus imensos sonhos
lindos mas agora mortos
lapidados e agora frustrados
grandiosos e agora pequenos
ínfimos, ridículos e cruéis
Não sei o que quero
não sei onde quero chegar
Nem onde vou estar
nem o que vou passar
como também como vou ficar
nem mesmo o que vou realizar
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Um cruel mundindo criei
entre perfumes e carretéis
muitos corações parti
meus sentimentos doei
tanto na verdade vivi
quanto na mentira me perdi
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Encontrei só decepção
o rancor não foi em vão
a maldade foi lançada
a crueldade, pesada
o prazer, apenas um mal
a futilidade o vazio então
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Eu sem amor fiquei
sem coração estanquei
sem alegria entristeci
sem saudade me tornei
sem felicidade me encontrei
só sei de uma coisa
viver é preciso
e a procurar sentido estou
Helio Pinho
(8 jan. 2010, 22h)